Terapia Manual 20 - agosto - 2012 Sem categoria11 comentários

Uma assunção comum entre profissionais da área de saúde, principalmente médicos e fisioterapeutas, é que o maior vilão para a dor lombar é a presença das deformações do disco intervertebral, conhecidas como protrusões, herniações ou extrusões. As evidências entretanto, nem sempre apontam que isso é verdadeiro.

 

Nos últimos 20 anos vários estudos usando RM (ressonância magnética) e tomografia foram feitos em indivíduos normais que participam de diversas atividades diferentes. Foi determinado que um grande número destes indivíduos, que não tem qualquer dor lombar, tinham um percentual grande de herniações e/ou protrusões (1-8).

 

Em 1995 Fraser et al conduziram um estudo em que pacientes com dor lombar e hernição de disco receberam cirurgia, injeção ou injeção placebo. Após 10 anos ele reavaliou os pacientes e grande parte deles ainda tinham hérnias discais mas ela nao tinha nenhuma relação com o bem estar do paciente. Em outras palavras, muitos pacientes que estavam se sentindo bem ainda continuavam com as herniações no disco.

 

Em um estudo prestigioso que foi publicado por Jenson e Modic em 1994 no conceituado New England Journal of Medicine, eles usaram ressonância magnética em 98 indivíduos assintomáticos (sem dor) e encontrarm que 52% tinham deformações do disco e 27% tinham protrusões discais.

 

No estudo de Weshaupt e Boos 1994, eles pegaram 60 pessoas aleatórias (ideade média de 35 anos) que nunca tiveram dor lombar em suas vidas. Após a ressonância os achados foram que 24% tinham deformações do disco, 40% tinham protrusões e 18% tinham extrusões do disco.  Em outro estudo consagrado de Boos et al em 1995, ele avaliou indivíduos que não tinham dor lombar ou ciática e que aplicavam grande estress em sua coluna devido ao trabalho (carregadores por exemplo). Sua conclusão foi que 76% destes indivíduos tinham pelo menos 1 protrusão ou extrusão do disco. Destes indivíduos 24% tinham imagens claras de compressão da raíz nervosa pelo disco, ainda que não tinham qualquer queixa de dor lombar ou ciática.

 

 

COMPILAÇÃO DOS ACHADOS

Abaixo segue a compilação dos estudos que avaliaram a presença de alterações no disco em pessoas normais (sem dor lombar ou ciática):

 

 

CONCLUSÃO

 

É importante que os profissionais da área de saúde procurem entender e objetivar o tratamento da dor lombar não apenas pela presença de protrusões ou herniações do disco intervertebral. A dor lombar

e a ciática são multifacetárias, e ainda que possam conter elementos biológicos e mecânicos (extrusões severas podem sim causar dor e disfunção num paciente), outros elementos importantes e reconhecidos hoje estão em ação, como a função da coluna (controle motor, ação e estabilização), adaptação da mesma ao meio físico e social do paciente, mecanismos de dor em operação e aspectos psicosociais.

 

Sergio Marinzeck Ft, M.Phty (Manip), MPA, IFOMPT

 

 

Referências

Jensen MC, et al. “MRI imaging of the lumbar spine in people without back pain.” N Engl J Med – 1994; 331:369-373

Boden SD et al. “Abnormal magnetic resonance scans of the lumbar spine in asymptomatic subjects: A prospective investigation.” J Bone Joint Surg Am 1990; 72A:403-408

Weishaupt D et al. “MRI of the lumbar spine: Prevalence of intervertebral disc extrusion and sequestration, nerve root compression and plate abnormalities, and osteoarthritis of the fact joints in Asymptomatic Volunteers.” Radiology – 1998; 209:661-666

Boos N, et al. “1995 Volvo Award in clinical science: The diagnostic accuracy of MRI, work perception, and psychosocial factors in identifying symptomatic disc herniations.” Spine – 1995; 20:2613-2625

Powell MC, et al. “Prevalence of lumbar disc degeneration observed by magnetic resonance in symptomless women.” Lancer – 1986; 2:1366-7

Boos N, et al. “Natural history of individuals with asymptomatic disc abnormalities in MRI: Predictors of low back pain-related medical consultation and work incapacity.” Spine 2000; 25:1484

Borenstein G, Boden SD, Wiesel SW, et al. “The value of magnetic resonance imaging of the lumbar spine to predict low-back pain in asymptomatic individuals: A 7-year follow-up study. J Bone Joint [am] 2001; 83:320-34

Wiesel SW, et al. “A study of computer-associated tomography: I. The incidence of positive CAT scans in asymptomatic group of patients.” Spine 1984;9:549-51

Wood KB, et al. ‘Magnetic resonance imaging of the thoracic spine. Evaluation of asymptomatic individual s.’ J Bone Joint Surg Am. 1995 Nov;77(11):1631-8

Fraser RD, Sandhu A, Gogan WJ. ‘Magnetic resonance imaging findings 10 years after treatment for lumbar disc herniation.’ Spine 1995 Mar 15;20(6):710-4.

 

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11 Comentários

Paulo Roberto Didonato

22 de agosto de 2012

Caro Prof. Sergio,

Muito interessante esses estudos.Isso na verdade corrobora com a importância do exame clínico do paciente, pois os exames de imagem dão informação muito limitada da condição real do paciente. É claro que nos fisioterapeutas não podemos dar diagnóstico da patologia e sim diagnóstico cinético funcional do paciente . Com relação aos exames eles tiram algumas dúvidas com relação a outras patologias que poderiam influenciar o nosso diagnóstico por exemplo: tumor. Abraços ao Prof. Sergio e aos colegas fisioterapeutas.

Sergio Marinzeck

22 de agosto de 2012

Caro Paulo,

Fico feliz que há profissionais que pensem como você. Você mencionou um termo muito importante: avaliação cinético funcional. O tratamento da dor lombar, assim como a maioria das terapêuticas da fisioterapia, se baseia no movimento, mas curiosamente o fisioterapeuta brasileiro não o avalia. Ele se preocupa com a “patologia” apenas. Não se trata de corrigir as deformações estruturais, mas fazer com que a coluna esteja funcionalmente adaptada para os estresses, movimentos posturas e atividades que a pessoa fará em seu dia a dia. Isso é reabilitação.

Abraço

Sergio Marinzeck

Pedro Simao

4 de setembro de 2012

Caros Paulo e Sérgio,
Sou personal trainer e tenho trabalhado com clientes com disfunções de coluna, ombro, quadril, etc… Mas sempre em conjunto com um fisioterapeuta adepto da terapia manual e especialista em cinesiologia aplicada. Os resultados são ótimos! O que posso dizer é que hj a hérnia de disco ou as protusões realmente deixaram de serem vilãs, pois a menos que não sejam de origem traumática, são consequências de desequilíbrios, inibições musculares, alterações tensionais de tecidos conectivos, desordens neurológicas, viscerais, etc. E também utilizamos como avaliação testes funcionais de movimentos.
Abs,
Pedro Simão (Belo Horizonte)

Alexsandro Oliveira

5 de setembro de 2012

Olá Prof. Sérgio,
Por isso que muita das vezes o diagnóstico clínico pouco importa para nós Fisioterapeutas. O importante mesmo é identificar o tipo de alteração FUNCIONAL que nosso paciente apresenta. visando melhorar suas atividades, sejam elas de vida diária ou especificas de cada um. Reabilitação em busca da função!

Grande abraço

Rosana Kovacsics Berner

10 de janeiro de 2013

Caros colegas:
Eu sou Fisioterapeuta e trabalho há 14 anos, somente com terapia manual,RPG. Tenho atendido, em todos esses anos, todos os tipos de problemas de coluna, tratamento conservador ou pré e pós cirùrgicos.Desde que comecei esse trabalho,pude observar que a maioria dos pacientes com queixas de dores devido a problemas discais,(qualquer região),sempre melhoravam muito após o tratamento. Em meus estudos, observei que todos esses pacientes encontravam-se sempre, com a musculatura desequilibrada, ou seja: músculos ou grupos musculares,fracos ou tensos, provocando assim um desequilibrio mecânico importante envolvendo a coluna vertebral, promovendo o quadro da dor. Concluindo, observei que: Equilibrar o tonus muscular com o tratamento, melhorar a postura diária, realizar alongamentos frequentes ,são a chave para a melhora das dores causadas pelos problemas discais.Em meu trabalho, alem de tratar o indivíduo,oriento tambem a postura geral para as AVDs, sempre oriento uma atividade física específica para cada caso e exercícios específicos de alongamentos.Por isso que muitos indivíduos mesmo com abaulamentos ou protrusões discais importantes, conseguem manter-se sem dores, como pudemos observar pela importante pesquisa realizada pelo Prof.Sérgio e seus colaboradores.

Daniele

4 de fevereiro de 2013

Essas referencias pra esse artigo são tão antigas assim mesmo?Livros pra artigo científico não vale.

Sergio Marinzeck

6 de fevereiro de 2013

Daniele

Como esta eh um prazer compartilhar conhecimentos com voce. As pesquisas referidas não são antigas. E metodologia ou qualidade cientifica nao tem necessariamente relação com data de publicação. Segundo o PEdro database mais de 80% das publicações atuais na área de saúde tem baixa qualidade portanto pesquisas atuais não garante que são melhores.

“Livro para artigo cientifico nao vale”. Nao entendi bem isso. Livro eh livro e artigo cientifico eh artigo cientifico. No post que eu escrevi TODAS as referencias foram artigos. Pode me dizer qual vc acha que eh livro?

Att.

Prof. Sergio Marinzeck

Junior

7 de março de 2013

Parabés Dr. hoje observo que vários fisioterapeutas que adquiriram máquinas de tração não trabalham mais sem uma “imagem” nas mãos, isto é preocupante, pois pessoas estão numerando pacientes e não dando nome a eles e sua história, a ganância de alguns por atender quantidade torna fracaa busca pelo melhor em atender ao próximo… Parabéns e obrigado, para todos que tocam seus pacientes e percebem como o corpo fala em nossas mãos.

Tadeu Andersen

27 de março de 2013

Fica este ponto de atenção elaborado pelo professor proveniente a revisão de literatura elaborada. Ao meu ponto de vista, o foco do trabalho é a incidência da correlação de dores lombares com os achados de hernia discal como alteração/doença de base, ou seja, o artigo pode ser moderno ou antigo, porém não se esta analisando a tecnologia aplicada, a técnica e sim a incidência qualitativa.
Parabéns Professor Sergio, ficou mais este conhecimento e alerta em minha conduta profissional

Sergio Marinzeck

5 de abril de 2013

Colegas,

Muito obrigado pelos comentário e fiquei MUITO feliz ao ver fisios que entendem que nem sempre o vilão é a “hérnia” e que movimento, exercícios, postura, adaptação da coluna ao seu uso etc são mais importantes para a coluna.

Nossa profissão precisa se impor perantes outras áreas da saúde como oferta de solução no tratamento da dor lombar até porque sabemos que a dor lombar e a sua perpetuação é em grande parte iatrogênica médica (leiam “The Back Pain Revolution” de Gordon Waddell e “Explain Pain” de Lorimer Moseley).

Abraços,

Sergio Marinzeck

Leila Marcondes

9 de setembro de 2013

É muito ver isso. Nao sei se devia opniar aqui pois me parece que a maioria sao profissionais e sou leiga pq na vdd sou paciente…estou sofrendo disso e achei mto interessante o txto pois sei que posso talvez procurar uma boa fisioterapia e nao precise fazer cirurgia. Obrigada a todos

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